segunda-feira, 25 de maio de 2009

As vantagens e desvantagens do recurso ao crédito - 2ª parte (as desvantagens)

O prazer que advém de consumir no presente implica frequentemente uma restrição de consumos futuros. É importante também ter em atenção que o endividamento tem consequências financeiras que podem ir além do período de endividamento considerado. O historial de endividamento pode afectar a avaliação de um indivíduo quando este se candidata a um novo crédito e pode afectar a sua capacidade para se qualificar para um empréstimo à habitação e para outro tipo de empréstimos e de serviços financeiros.

Além disso, uma gestão incorrecta das dívidas do agregado ou uma mudança negativa abrupta da situação financeira da família pode impedir os compromissos financeiros anteriormente assumidos. O crescimento exagerado da dívida por parte do agregado pode constituir uma ameaça ao bem-estar deste, por poder levar a casos de incumprimento ou até à insolvência ou sobreendividamento. E este é um fenómeno que se tem vindo a verificar com cada vez maior ênfase na sociedade ocidental, incluindo Portugal.

O sobreendividamento comporta igualmente consequências mais ou menos graves para o indivíduo ou para a família, ao nível psicológico, social e económico. Com efeito, no plano económico é posto em causa o estado financeiro e o equilíbrio orçamental do agregado, favorecendo o aumento do nível de stress financeiro familiar. As consequências do sobreendividamento são frequentemente mais nefastas para os grupos com mais fracos recursos económicos, que tem com maior probabilidade dívidas que são prioritárias (como contas de serviços, hipotecas e taxas municipais) que podem ter repercussões graves, como a perda da habitação, podendo também constituir uma barreira em termos de empregabilidade além de ser vedado o recurso ao crédito no futuro por estar na chamada “lista negra” no Banco de Portugal.

De uma forma geral, sobrevêm ainda implicações importantes e negativas para os sobreendividados já que as dificuldades económicas têm consequências ao nível social e psicológico. Entre estas consequências incluem-se a marginalização, a exclusão social, os efeitos na saúde mental dos indivíduos, a tensão na relação marital e possível dissolução das famílias e perturbações da saúde mental e física dos filhos de famílias sobreendividadas, assim como o impacto no desempenho escolar das crianças entre outros aspectos.

Mas o sobreendividamento tem implicações mais vastas, que abrangem a economia e a sociedade. Ao nível da economia as consequências são negativas porque estas dívidas não irão ser amortizadas (Haas, 2006) e além disso, o aumento do número de famílias sobreendividadas pode ser acompanhada de uma contracção no consumo privado, em particular no tocante aos bens de consumo duradouro. O efeito de diminuição do consumo privado faz-se sentir no abrandamento do crescimento do PIB, isto, tem repercussões directas no crescimento económico. Os níveis de confiança necessários para o funcionamento normal do mercado de crédito são igualmente afectados por causa do sobreendividamento, surgindo com maior intensidade os problemas associados ao risco moral e à selecção adversa, em relação aos quais as instituições financeiras reagem racionando o crédito sem diferenciar os clientes. Por outro lado, as famílias com níveis elevados de endividamento e que se podem encontrar em risco de sobreendividamento reagem de forma mais significativa aos choques negativos que afectem o rendimento, diminuindo o seu consumo numa proporção mais elevada.


Nota: O stress financeiro é definido como os resultados adversos sociais ou económicos associados com a situação financeira do agregado, que inclui problemas de pagamento de dívidas, delinquência, falência e uma falta pontual de rendimentos.

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